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Mostrando postagens de 2016

UM OLHAR SOBRE A CIDADE

  Pico da Ana Moura, Timóteo, MG          A primavera aconteceu este ano, ao contrário dos dois anos anteriores, quando o inverno se transmudou rapidamente em verão. Temos chuvas desde o final de setembro e a natureza tropical está revigorada, exibindo seus melhores tons de verde e amarelo, matizados com florações brancas, roxas, laranjas e vermelhas. Há muita vegetação dentro da cidade, que tem a sorte de estar localizada entre vales, numa região onde a cobertura vegetal deve ser mantida para contrabalançar a poluição produzida pela indústria siderúrgica.          Em Timóteo, há praças, corredores verdes, um lindo parque na montanha (Pico da Ana Moura) e uma mata urbana (o Oikós),  que garantem à cidade uma boa qualidade do ar e uma humidade atmosférica que nunca fica comprometida, mesmo durante os meses mais secos do inverno. A diferença é notória quando se compara a situação do município neste aspecto com, por exemplo, Belo Horizonte, localizada a apenas 200 quilômetros d

WALK IN, WALK OUT

The "jungle" I walk past in my daily commute.             As I engage in my 5-minute walk back home, countless thoughts flourish amid fears of a shrinking end-of-month budget.  The light rain that falls this evening brings the gentle music one needs to feel happy or sorrow. Umbrella up, leaps down the watered street, my body reflects on the asphalt mirror like a character from a noir movie: Humphrey Bogart  or so, it only lacks the red-lip lady looking sneakily from a side porch.  Life’s a movie then, you play your part, sad or thrilling, giving up on a happy ending.             Hiking’s cheap, flying’s much better. So many places to see, you can’t help remembering that song, “So far away from me”. The year was 1979, maybe a little earlier, people rallied on the streets for democracy, there were still militaries everywhere, overseeing us, lecturing us on whatever they wished or thought they should. We strolled pass them and glanced at the armored cars, because thou

BACK TO BORGES DA COSTA

         Oh! que saudades que tenho da aurora da minha vida, tss... tss... - quem não conhece o poema de Casimiro de Abreu?                  Escuso os que desejam voltar aos verdes anos e sentir de novo o perfume de um mundo há muito tempo perdido; eu me contento em voltar à juventude, mais especificamente à época em que residi na Moradia Estudantil Borges da Costa em Belo Horizonte. Isso porque a Produtora Almôndega, através de projeto aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura, acaba de lançar uma campanha de financiamento visando a produzir um filme sobre o Borges, como era popularmente conhecido, e suas imbricações com a cultura da cidade e as transformações históricas do país no período 1980-1998.             O Borges, ao qual viria se juntar em 1985 o MOFUCE, foi um espaço franco, construído e reconstruído pelas gerações sucessivas de estudantes e parasitas que por ali passaram e pode perfeitamente ser tomado como um espelho da época. Cada geração tem sua narrativa, a

DOIS AMIGOS

        (Imagem: www.peterexpress.or)        Cândido Pierrot atravessou o deserto em lombo de camelo no intuito de reencontrar o grande amigo de infância, que tinha resolvido trocar o sertão pela Arábia. A marcha dura do dromedário, o sol implacável, a desconfiança dos beduínos, nada o desencorajou. Após dias de viagem, chegou a um oásis onde brotava água fresca e as tâmaras frutificavam em abundância. Mas os guardas da tribo, ao vê-lo sem túnica e turbante, tomaram-no por um espião, prenderam-no e levaram-no ao chefe.          - Que fazes aqui, galego? Espionando nossas fêmeas? – indagou o xeique, batendo com o cajado de osso de camelo no chão.             Pierrot ergueu os olhos discretamente. O xeique estava sentado em um trono de madeira coberto com pelo de camelo. “Tofu”, pensou. “Se não encontrar um álibi convincente, serei servido no repasto da noite. Ou talvez me amarrem no rabo de um camelo bêbado e o soltem pelo deserto. Se tiver escolha, vou preferir ser servid

ABAIXO A DEPRESSÃO!

         O Circo Brasil continua em turnê, com palhaços e engolidores de propina, mas a plateia não sai do tédio, o Ibope acaba de informar que, no quesito aceitação, o presidente Mordomo de Frankstein empata com sua antecessora, a Mulher Sapiens.  Nem a comédia pastelão Seis por Meia Dúzia - na qual os aliados de ontem trocam insultos e tortas na cara - empolga as multidões. Foi decretada a depressão oficial!          Sem a criação da bolsa classe média, os avanços sociais estarão comprometidos e metade dos brasileiros não conseguirão mais pagar a aposentadoria da outra metade. Para os detentores de outras bolsas, poderia ser criada a bolsa trabalho. É a bolsa ou a vida!          Em meio às críticas ao baixo astral federal, o palácio do Jaburu convocou o grande chefe Atabaque em caráter de urgência. Para quem não lê o Amazonas News, informo que o cacique Atabaque é o mago das fórmulas milagrosas e de baixo custo e, ainda por cima, 100% nacionais, não precisa pagar royalt

O ROTO, O ESFARRAPADO E O MALTRAPILHO

(Charge eleitoral da antiga revista O Malho)              Com o início de mais uma campanha eleitoral, deu-se a habitual revoada de candidatos, abutres, andorinhas e pardais confundidos na mesma nuvem. Nos espaços públicos e privados, podem-se ouvir os pregões daqueles que se apresentam como a solução para os nossos problemas, os homens (e também uma minoria de mulheres) honestos (não há um único ladrão entre eles), competentes (todos venceram na vida com seus próprios esforços, sem apadrinhamentos ou falcatruas), trabalhadores (nenhum aproveitador que se esconde atrás de um mandato para legislar em interesse próprio), tementes a Deus (é possível ver mais de um deles ajoelhados em algum banco de igreja, mirando o cesto de coleta com o mais pio dos olhares), enfim, nenhum ricaço com sede de poder (todos têm ganhos modestos, conforme se comprova em suas limpas declarações de renda), nenhum mentiroso, contrabandista ou assassino.              Mesmo os tipos mais medonhos são conv

O ALFARRÁBIO

(Imagem: macelginn.com.br)          A cultura anda às traças em nosso país. Meu amigo Jack me contou a história de um amigo dele, professor de faculdade, que se viu desempregado e precisou sacrificar a preciosa biblioteca reunida ao longo de trinta anos. Tirando Bakunin, Paulo Leminski e clássicos da língua portuguesa, contou Jack, todos foram pra fila do bric-à-brac .          “Eu disse a ele que livros usados não têm valor. Ele me levou até a biblioteca e me mostrou uma seleção de obras diversas, ensaios, coletâneas completas, belos livros da José Olympio ilustrados por Poty, livros raros como os de Mendes Fradique e versões originais de Pau Brasil de Oswald de Andrade e Feuilles de Route de Blaise Cendras, lançadas em Paris em 1928. - Vou fazer uma boa grana junto às livrarias da Savassi, afirmou, batendo em meu ombro”.          “Na semana seguinte, quando o reencontrei, ele não estava tão confiante. Não havia livrarias na Savassi dispostas a comprar seus livros, apenas

ORIGEM

  (Imagem: itarantimagora.blogspot.com)             Todo mundo nasceu em algum lugar. Eu, por exemplo, nasci em Itarantim, um município do baixo Jequitinhonha, na divisa da Bahia com Minas Gerais. Depois, fui registrado em Salto da Divisa, juntamente com outros dois irmãos, pois meu pai registrava os filhos de três em três. Meus irmãos mais velhos guardam boas lembranças da Fazenda Gameleira, mas eu não tenho qualquer reminiscência de lá.              Não fosse pela certidão de nascimento, eu nem saberia de onde vim. Assim como o povo do Córrego dos Trabalhos, distrito de Ribeirão do Salto, município de Itarantim, estado da Bahia não se dá conta que eu existo.             À cata de minhas origens, fiz uma busca na web: aparece uma cidadezinha ao pé de uma serra de granito, um lugar bucólico, perfeito para uma viagem imaginária.             Como tantos outros lugares do Brasil, o nome Itarantim vem do tupi-guarani, pois “ita” significa pedra. Atualmente a serra que emoldu

LATE NIGHT CLUB

  (Foto: 98bowery.com)             Texto de Fausta para Alícia:             “Late Night Club, ½ noite, checar ZIP, vxt lgda”.             Reply de Alícia:             “Ok. ZIP in, KK Pablo - lgda?”             Pablo, o cientista, brincando de sapo em ninho de cobras.             Fausta mexe no bolso da cazadora:             “Lgda, vou v, + sem ZIP out – necas!”             ZIP é zero impact poison, veneno letal, gíria.             ZIPs em todos os campos magnéticos, resistem ao ataque das maquininhas autogeridas com gosto de anis, punk drones, prontas para serem comidas antes que explodam!              Late Night Club, ½ noite, Fausta tira do bolso o Ca(CIO)2, hipoclorito de cálcio, que não se toma – não se toma, entende? –, a menos que se deseje uma morte lenta e horrível, como a do King Kong, mas esta foi proposital.             Hot pants, meias 7/8, cazadora, vestida para matar, Fausta; na pista de dança, funk, rap e o King Kong!             “Tutti-tu