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Mostrando postagens de 2012

VENTO SUL - A Infância das Histórias

Capa de VENTO SUL, meu primeiro livro impresso     Muitas histórias nascem na infância ou nela se inspiram, pois nada se assemelha mais ao ato de contar histórias do que a imaginação infantil. Tornar possível o impossível, inventar, subverter, mesclar, e assim ocupar a mente e sua fábrica de ideias em algo útil, pois mente ociosa é oficina do diabo. Escrevo para dar sentido às ideias que trocam cotoveladas em minha mente. Mas também pelo prazer que emana da combinação livre das palavras, da possibilidade de fixar uma imagem e assim poder reparti-la indefinidamente, num exercício de liberdade compartilhado com o leitor. Um caprichado projeto editorial deu ao livro beleza e distinção Vento Sul , meu livro de estreia na literatura impressa, é composto de d ezessete histórias que refletem o universo de minha infância, um universo que não existe mais, um mundo simples e pequeno, entre vila e fazenda. Mundo de jogos e descobertas, de experiências diretas com o tato,

O DEUS DE PEDRA

Foto de Sérgio Gadelha             Era um tipo mediano, de cabelos grisalhos, aparados à altura das orelhas e densa barba descendo em “v”. Mas sua constituição era robusta: mãos calejadas, músculos fortes e pés de andarilho. O nariz era grande, desses que sempre chegam antes do corpo, e a boca, velada, de cujo antro partiriam provérbios enigmáticos:             “Quem vive na serra, tem gosto de terra.”             “Todo homem deve criar um deus a sua imagem e semelhança.”             Seus hábitos, embora simples como os de um monge, prestavam-se a toda sorte de especulações. As pessoas do lugar o conheciam como Dedeperre, Depa ou, simplesmente, Perre. Parece que, desprovido de parentes e derentes,  havia removido qualquer traço de história do próprio nome, resignando-se em ser o homem em si, sem epítetos: “Não carrego sobrenome, como não carrego mochila.” Morava aos pés da Serra do Trovão, na Chapada de Santana, cercanias de Ouro Preto. Era visto no alto da ser

A PAIXÃO POÉTICA DE FERREIRA GULLAR

Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo.          Meu primeiro contato com a poesia de Ferreira Gullar foi em 1981, ano em que foi publicada a coletânea Toda Poesia pela Civilização Brasileira, reunindo a produção do poeta de 1950 até aquela data.          Bons tempos: tudo tão ingênuo e utópico. Ingênuo porque ainda se acreditava em “revolução”, supondo com isso não apenas uma mudança no sistema econômico e social, mas também uma transformação das mentalidades e dos valores – em suma, acreditava-se que o homem ocidental poderia ser melhorado, pois ele seria “vítima” do sistema capitalista, que o condicionava e oprimia. Utópico porque os profetas do impossível abundavam, numa época em que os belos discursos valiam ouro e aqueles que tinham o dom da palavra eram admirados como verdadeiros ídolos. Alguns tinham o pé na era de paz e amor, cujos reflexos tardios entre nós ainda se faziam sentir, outros sonhavam com a esquerda marxista e est

PARIS, MONTMARTRE

      Conforme prometido em uma postagem de 09 07 12 (PARIS, L'AMOUR), estou de volta a Paris, desta vez para conduzi-los por um breve passeio pelo bairro de Montmartre (pronuncia-se MONMARTR), que tem ares de uma cidade do interior. Isto devido à topografia do lugar, que é uma colina, em cujas encostas desenvolveram-se ruas estreitas e sinuosas, muitas das quais mais adequadas aos pedestres do que aos carros. Além disso, Montmartre tem normalmente mais estrangeiros do que parisienses, o que lhe dá um ar de folga permanente, de   nonchalence   e   dulce vitta.  Conforme prometido em uma postagem de 09 07 12 (PARIS, L'AMOUR), estou de volta a Paris, desta vez para conduzi-los por um breve passeio pelo bairro de Montmartre (pronuncia-se MONMARTR), que tem ares de uma cidade do interior. Isto devido à topografia do lugar, que é uma colina, em cujas encostas desenvolveram-se ruas estreitas e sinuosas, muitas das quais mais adequadas aos pedestres do que aos ca